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Eduarda Santana acordou num sobressalto uma madrugada desta semana, num quarto de hotel. Não conseguia mais dormir. Às 5h, acordou seu treinador, Phillip Lima. Queria companhia na insônia. “Fiquei pensando, pensando, pensando”, diz Duda. “Já pensei em todas as formas de ganhar dela. Como vou encaixar um golpe, como vou acertar outro, como vou nocautear”, diz. O episódio de tensão pré-estreia acometeu a atleta porque, aos 22 anos, ela realiza um sonho: vai pisar no octógono pela primeira vez neste sábado, no UFC que acontece em Estocolmo, na Suécia.

“Olha o que a luta faz, mana”, diz Duda, por telefone, na tarde desta quarta-feira. “Nunca tinha saído do país e vim parar na Suécia. Quem diria?”. Há cinco anos, nem ela própria. Nascida e criada na comunidade de Cidade de Deus, uma das mais famosas do Rio de Janeiro, onde ainda mora com a mãe, os sete irmãos e a filha de 3 anos, a atleta teve muita chance de desandar na vida. “Na minha adolescência me envolvi com drogas, com prostituição. Foi zoado”, relembra, sem, no entanto, querer muito entrar em detalhes. “Mas isso é vida passada, né? Hoje sou uma atleta e estou na Suécia.”

Duda começou a lutar levada por um vizinho, porque ela vivia arrumando confusão na rua. “A molecada que arrumava confusão comigo”, ela mesmo se corrige. Na equipe Tatá Fight Team, fez amigos como Thiago Marreta e Alex Cowboy (de quem herdou o apelido, Duda “Cowboyzinha”), que serviram como inspiração. E, depois de algumas lutas de muay thai, arriscou entrar para o MMA. Foi só após seu primeiro combate de artes marciais mistas que ela percebeu que teria futuro no esporte. “Isso foi há dois anos. Aquela ‘adrena’ da luta que me fez ter certeza que era isso que eu queria fazer da vida. Já tinha lutado bastante muay thai, mas achava que não daria em nada. Ficava vendo muito luta no Combate, mas só sonhava com isso. Bateu a real mesmo só na minha estreia.”

Depois de três lutas e três vitórias, Duda foi para o Contender Series que foi realizado em agosto do ano passado, em Las Vegas. Contou para todo mundo, estava feliz da vida. Mas seu visto para os Estados Unidos foi negado. A atleta caiu em depressão. “Foi o pior momento da minha vida”, ela diz. “Foi sério: entrei em depressão e descontei na comida. Engordei uns 20 quilos. Fiquei três meses sumida da academia e do mundo. Não saía do quarto e nem atendia telefone. Meu mestre, que estava em Las Vegas por causa do Contender, mandava o pessoal da academia atrás de mim e eu fingia que não estava. Só queria ficar no escuro e chorar.”

Duda saiu dessa depois de muita conversa com a mãe e com Phillip, que insistiam para ela voltar a treinar. “E por causa da minha filhinha também”, ela diz, sobre Maria Ester, de 3 anos. “Ela é a coisinha mais linda e me ajudou muito. Eu tinha que dar a volta por cima.” O esporte a ajudou a retomar sua vida. De volta à rotina, Duda recuperou o condicionamento físico e estava planejando retornar aos combates quando recebeu uma mensagem do treinador, que a fez gritar de alegria. “Ele me mandou um áudio no ‘zap’ e eu nem ouvi. Então, pra ter certeza, ele me ligou para contar que o UFC tinha resolvido me contratar. Acho que foi Deus que viu meu sofrimento, tudo o que eu tinha passado, e abriu uma porta para mim.”

Às vésperas de sua estreia contra a sueca Bea Malecki, ela acredita que só vai se dar conta mesmo do que está acontecendo com sua vida quando ouvir Bruce Buffer. “Esse vai ser o meu momento, quando ele anunciar meu nome”, afirma a atleta, que conta que luta para poder dar uma vida melhor à família e para Maria Ester. “A vida é sacrificada, quase não a vejo durante a semana porque treino o dia todo. Tanto que, no fim de semana, sou até chata, porque quero fazer tudo com ela, ter ela ao meu lado o tempo todo. Mas agora que estou no UFC eu posso mudar a vidinha dela, pagar uma faculdade no futuro. Ela já entende hoje o meu trabalho, mas tenho certeza de que vai entender ainda mais quando for maior.” Antes de deligar o telefone, ela avisa: “Pode dizer aí que vou trazer essa vitória”.

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